terça-feira, 3 de junho de 2008

Ciência e sociedade (resenha)

A compreensão púbica da ciência é considerada atualmente como um dos valores intrínsecos de sociedades democráticas, isto porque estes conhecimentos surgem e se desenvolvem a partir de dinâmicas sociais. Desta forma, ela se apresenta indissociável daqueles que a produzem e de seus interesses econômicos, políticos e ideológicos. Cidadãos que não possuem conhecimentos acerca deste assunto são facilmente cooptados por órgãos ou canais de que veiculam informações ligadas a interesses exclusivamente privados, que não levam em conta (na maioria das vezes) as necessidades mais urgentes e reais do povo, principalmente quando o lucro é o principal objetivo (vivemos num mundo capitalista, lembra-se?).

Ao contrário do que se propõe em muitas vertentes filosóficas e científicas, o pesquisador nunca é neutro em relação aos seus resultados e objetivos. Os grandes meios de comunicação, inclusive os livros didáticos (por mais incrível que pareça), fomentam a idéia de uma ciência linear, particularizada, consensual e desalojada de um contexto mais amplo. No entanto, as coisas não funcionam desta maneira, a ciência não é um juiz, pronto a validar ou não permanentemente qualquer tipo de informação. Pelo contrário, tudo que vemos e utilizamos no nosso cotidiano é fruto de muitas discussões, exclusões e “loucuras” cometidas por algumas mentes perturbadas da nossa história. Por mais que não gostamos de admitir, nossa sociedade é profundamente impregnada por aspectos específicos e técnicos do saber científico e são eles que nos orientam o que comer, o que vestir, o que usar, o que comprar, e daí em diante. Alguém aí pensou em manipulação? Alguém aí está disposto a fazer tudo o que lhe mandarem, independente da sua vontade?

A atitude crítica é algo especialmente importante na sociedade atual, onde meios de comunicação proliferam informações simplistas e pouco ou nada contrastadas da ciência. Acreditamos que não é nada fácil manter uma posição crítica, ela exige uma constante renovação, uma perspectiva edificante da nossa realidade tão mutável. Pois está aí, nesta última palavra da frase anterior, a justificativa para nosso pensamento plural: não somos iguais, nem temos necessidades iguais, somos diferentes. Simples assim.
Simples assim? Nem tanto. Como brasileiros somos obrigados a conviver com alguns “carmas” próprios da nossa sociedade. Adoramos oposições genéricas: “sou a favor”, “sou contra” (alguma familiaridade aí?). Pois é, essas dicotomias cujos pólos não são problematizados possuem um conteúdo tão genérico que perdem a especificidade, sacrificam as variedades, as diversidades e empobrecem nossas perspectivas. Mas por que somos assim? Porque não somos capazes de identificar nossos problemas e muitos deles estão locados justamente nas áreas das ciências como, por exemplo, os transgênicos, as drogas, as mudanças climáticas e tantos outros vários e infinitos assuntos polêmicos.